quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Um dia na Vila do Ventura...


A primeira vez que eu tive contato com a grande civilização do Morro do Chapéu, foi através da leitura da obra de Jubilino Cunegundes, que entre outras coisas enaltecia as belezas e peculiaridades de sua terra natal, como sendo únicas. Confesso que na época achei-as um tanto exageradas, mas o tempo, se encarregou justamente de e mostrar o seu reverso.

Da Pedra do Ilhéu (baliza natural) nos limites físicos com o Sento-sé passando pelo belo Balneário do Tareco e das maravilhas da sede, até chegar a sossegada Vila do Ventura no extremo oposto do mapa, deixa esse surpreendente e atraente destino, como sendo um dos locais mais atraentes da Chapada Diamantina e da Bahia.

Como grandes lugares são feitos pelas pessoas, quero aqui limitar minha escrita & narrativa à uma pessoa e sua casa, como forma de melhor me expressar sobre o tema e sua relação com o todo.

Para quem chega ao Ventura e sente a  grandeza dos antigos casarões, percebe o quanto nós perdemos a dignidade da arquitetura e do espaço que haviam nessas formidáveis habitações, pois num único pernoite, a gente entende melhor das emendas e trama de nossas entranhas mais coloniais e nota o quanto Belchior se enganou em sua máxima, pois aqui nessa vila, a gente estranhamente ama e quer o passado, sem ter que se preocupar com o advento do novo e do presente, ou se virá.

A morada de Marcos é por assim dizer, um "Portal dos Sonhos" que nos tele transporta e aproxima entre batentes portas e "ginelas" em um passado que é presente e aprende a valorizar mais as coisas simples e a pisar mais de leve, por causa do chão coberto por um piso madeira tão antigos quanto à idade da terra.

A simbiose  das cores do lugar nos impressiona, transporta e remete para outra dimensão. O vermelho intenso, rubro colonial, se mistura com Oliva profundo do verde, em oposto ao azul anil, Mônaco Colonial, com o amarelo ouro, puro e verdadeiro, numa explosão única de coloridos, nos reaproximando com o passado, evidenciando o quanto éramos alegres e bem mais coloridos.

...e se Deus está nos detalhes, de certo mora lá no mosteiro de São Tempo, num casarão do velho Ventura.

É verdade que uma alma grande, a gente não procura, encontra-a"...  e foi dessa maneira que o senhor Marcos; com o seu bokapiu e tudo. Se apresentou para nós ali, como um verdadeiro achado humano, garimpado em meio ao malho que se tornou a média humana, tal como filigrana ou mesmo um diamante.

Um homem generoso, sensível e agradável, extremamente inteligente e dono de outras tantas faculdades inatas, esse mestre professor/ator/estilista, representa a grande simbologia da resistência no lugar. A sua casa não é a primeira por acaso, como não não é fruto do acaso, sua relação com o seu estimado cão, que atende simplesmente por Dog, o seu fiel escudeiro.

De fina estampa e bom gosto no corte, esse estilista sui generis, esbanja criatividade e estilo, vestindo com a sua marca, (que é uma espécie de triunvirato entre seus irmãos) a vanguarda em cima e embaixo dos palcos, com peças exclusivas para o deleite daqueles que buscam a diferença entre os iguais.
Enfim, volto do Ventura, melhor do fui e trago cada vez mais a certeza que a vida é de fato a arte do encontro, pois, como diz a minha amiga Roze, há muitas coisas boas acontecendo no universo...

J Santos

sexta-feira, 11 de junho de 2021

 AMETISTA 


Ametista era a Ninfa 

Que buscando a salvação,

Pra livrar-se do assédio,

Ganhou essa coloração.

Mergulhada no vinho,

Sem ter outro caminho,

Baco fez a imersão.

Daí surgia o cristalino,

Lilás intenso, purpurino,

De equilíbrio e proteção.






quinta-feira, 10 de junho de 2021

Fotógrafo J Santos, resgata “tartarugas pescoço de cobra” das mãos de catadores.  



Jamais pensei que uma visita à minha cidade natal, Salvador/Bahia, fosse me deixar ainda mais conectado às minhas atividades interioranas, do que essa feita junto com alguns amigos nesse último mês de maio.

Tenho aprendido cada vez mais que o nosso ecossistema, embora precise de nossa sensibilidade, não dependa da gente para existir e certamente continuará a sua existência, independente de nossa presença.

Entretanto há uma dívida humana a compensar que nós temos, em relação aos outros entes do reino animal e é nossa responsabilidade, criar alternativas essa, que possibilitem isso, ainda mais depois de visitar uma área urbana com esgotos e todo tipo condições adversas e retirar esse pequeno e quase indefeso animal da espécie Phrynops gibbus, das mãos de um catador de materiais recicláveis, num bairro próximo à uma antiga pedreira.

Na verdade esse engraçado  termo, "tartaruga do pescoço de cobra" é só um apelido, pois esse cágado na verdade é um tipo de quelônio, filha de uma extensa família dos Chelidae, com cerca de 25 espécies, distribuídas em nove gêneros por várias regiões do país.

De certo, o meu olhar ficou mais atento, depois dos episódios com o Cágado-de-Barbicha de Serra do Ramalho, em 2017, que eu tinha já salvo das mãos dos pescadores, despertando outra vez em mim, a mesma tendência, por ter mais uma vez, um comportamento parecido com aquele de antes, só esse agora, no meio de uma metrópole e envolto numa série de situações, que talvez outra pessoa não fizesse o mesmo.

Resumo da ópera: consegui uma casinha, dessas de "Pet Shops" que transportam cães e gatos e improvisei ali, um cativeiro, propício para acondicionar o meu novo e inesperado hóspede, junto com água repolho e alface, comprado em um verdurão que havia próximo.

Com certeza não tive dúvidas que aquela "coisinha" ia comigo, viajar cerca de 600 km até a sua nova morada em Serra do Ramalho, onde o outro quelônio da mesma espécie, ganhou tratamento VIP e escapou da morte, nesse que já considero um local de preservação dessas espécies.


Por J Santos.


Antiga pedreira no Alto do Arraial/Cabula.
Antiga pedreira no Alto do Arraial/Cabula.